Muitas coisas foram e ainda são de alguma forma, invisíveis para mim. Acontece constantemente com as boas. Meus olhos não conseguem capitá-las facilmente. Tendem a enganar-se, e acabo cedo ou tarde sofrendo as consequências. Tenho sofrido no pouco que já vivi, e tenho plena convicção de que muito ainda hei de sofrer. É um sofrer diferente. Por falta de algo, não pela perda.
Não é carregado por ecos de gritos de dor, daquele que foi torturado até sucumbir, lutando por seus direitos, ou por seu país... Perdendo família, liberdade, razão e direito. Perdendo a vida.
Não, nunca será comparado ao desespero de uma mãe, ou de um pai, ou de ambos. Ao ter seu filho devorado pela terra, que esmaga impiedosamente, seu cadáver. Carregando o seu bem mais precioso, muitas vezes sem chance para um adeus.
Meu sofrer ainda não tomou essa grandeza. Embora semelhante, profundo, cabe dentro de mim, comprimido. Exprimido no peito. Refletido e contido nos meus tão tristes olhos. Meu sofrer dói na alma. No íntimo. Em cada fio que a vida teceu, e vai tecendo. Emaranhando-se no breu dos dias que tenho atravessado desde que a esse mundo fui apresentada; e fui notando a ausência de cores, mergulhando vagarosamente numa vida cinza, que um dia sonha ser uma flamejante chama.
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